Os indicadores de inflação no Brasil e nos Estados Unidos reacenderam o interesse por investimentos nesta terça-feira (12), elevando o Ibovespa, que avança acima de 1%, e o dólar, que opera em declínio. Adicionalmente, o Dow Jones registra um aumento superior a 400 pontos e o Nasdaq estabelece novo recorde diário.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou aumento de 0,26% em julho, após alta de 0,24% em junho, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No acumulado do ano, a taxa foi de 3,26% e em 12 meses, de 5,23%.
Os dados apresentaram-se inferiores às projeções dos analistas e possibilitam um corte de juros antecipado. Na última decisão, o Comitê de Política Monetária (Copom) anunciou uma pausa no ciclo de aperto monetário, indicando que a Selic deve permanecer no patamar atual de 15% por mais tempo.
Nos Estados Unidos, o Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) aumentou 0,2% em julho em relação a junho (+0,3%), de acordo com dados do Departamento do Trabalho. Na comparação anual, o CPI subiu 2,7% em julho, mantendo a mesma variação do mês anterior e ligeiramente inferior às projeções.
Por volta das 11h40, o Ibovespa avançava 1,64%, situando-se em 137.832,15 pontos. No mercado de câmbio, o dólar atingiu a mínima do dia (R$ 5,4047) devido ao enfraquecimento da moeda americana e à queda nos rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA. O dólar à vista cedia 0,54%, para R$ 5,4122.
Na bolsa de valores, o Dow Jones registrou aumento de 0,92%, atingindo 44.379,51 pontos; o S&P 500 subiu 0,43%, com 6.402,57 pontos; e o Nasdaq avançou 0,34%, em 21.464,18 pontos.
A inflação no Brasil
O aumento de 0,26% no IPCA representou o resultado mais suave para o mês de julho, desde 2023, quando registrou alta de 0,12%, conforme dados do IBGE. Em julho de 2024, a taxa foi de 0,38%.
Três dos nove grupos apresentaram quedas de preços em julho: alimentação e bebidas (-0,27%), vestuário (-0,54%) e comunicação (-0,09%). Em contrapartida, os preços subiram em transportes (0,35%), artigos de residência (0,09%), habitação (0,91%), despesas pessoais (0,76%), saúde e cuidados pessoais (0,45%) e educação (0,02%).
Em julho, cinco das dezesseis regiões investigadas pelo IBGE apresentaram quedas de preços. A redução mais acentuada foi observada em Campo Grande, com deflação de 0,19%, e a mais expressiva em São Paulo, com alta de 0,46%.
A desaceleração do índice IPCA em julho, especialmente no núcleo de bens industriais – que caiu de 3,2% para 1,7% –, foi vista como um resultado positivo por bancos e corretoras. Essa variação contribuiu para amenizar o impacto do aumento no núcleo de serviços.
O banco também destacou que o índice de difusão do IPCA, que indica a parcela de itens da cesta com aumento acelerado nos preços, atingiu 58,6% em julho, com ajuste sazonal, “um patamar compatível com uma inflação em torno de 5% no médio prazo”.
A XP afirma que a leitura de julho do IPCA sustenta uma tendência de queda nas projeções de inflação para o ano corrente.
O economista Alexandre Maluf acredita que o IPCA estará com uma cara que ficará abaixo de 5% em 2025, podendo fechar em 4,8%, em linha com o que foi observado em 2024.
Acreditamos que nas próximas semanas as expectativas do Focus devem cair para este ano e o próximo, expressando essas leituras mais favoráveis.
Ainda assim, ele acredita que a Selic deve permanecer nos atuais 15% por algum período, com o primeiro corte na taxa básica se concretizando somente em janeiro do próximo ano.
O Bradesco aponta que o IPCA de julho mantém a trajetória favorável de inflação, alinhada com a projeção de 4,9% para o índice em 2025.
Apesar do aumento de serviços básicos, este foi consequência de poucos produtos, bastante instáveis [como cinema e reparos de automóveis], e de consumo fora de lar, que deverá diminuir nas próximas análises, segundo o banco em relatório.
A Capital Economics considera que a desaceleração da inflação de junho para julho, na métrica de 12 meses, não modifica a previsão de manutenção da Selic em 15% em setembro.
A economista para mercados emergentes Kimberley Sperrfechter afirma em relatório que o Copom iniciará a flexibilização da política monetária em torno do final do ano e que a taxa será reduzida mais do que o esperado no próximo ano.
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A inflação nos EUA
O mercado elevou as apostas sobre um aumento de 75 pontos-base até dezembro pelo Federal Reserve (Fed) e tornou o cenário como o principal, após a inflação divulgada hoje.
Conforme dados da ferramenta de monitoramento do CME Group, a probabilidade de uma redução de juros de 75 pb aumentou de 41,3% antes do lançamento dos dados para 55,1% imediatamente após a divulgação dos resultados do CPI. A chance de uma diminuição de 50 pb caiu de 43,9% para 37,4%, enquanto a probabilidade de uma redução de 25 pb diminuiu de 13,5% para 7,2%.
A probabilidade de manutenção dos juros ao longo do ano tornou-se praticamente inexistente naquele período, após diminuir de 1,3% para 0,4%.
Com o aval do CPI, as perspectivas de uma redução de 25 pb na taxa de juros foram fortalecidas, passando de 82,4% para 90,1% em setembro.
A avaliação do CIBC indica que o CPI de julho sugere que o Fed poderá reduzir as taxas de juros na reunião de setembro. De acordo com o banco canadense, o núcleo do CPI revelou que as pressões sobre os preços “apresentaram um aumento um pouco mais acentuado em julho, mas não há nada muito alarmante”.
O CIBC observou que os efeitos das tarifas se manifestaram em certas categorias (como bens domésticos), porém foram atenuados pelos preços estáveis dos veículos novos, que asseguraram a continuidade do volume total de bens essenciais em comparação com o mês anterior.
A Capital Economics considera que os dados de inflação de julho nos EUA indicam “outra mudança de narrativa” para o Federal Reserve, com os impactos das tarifas “quase imperceptíveis”, porém um “acréscimo mais robusto nos preços de serviços”, o que deve resultar em novo aumento acima da meta no núcleo do índice de preços para gastos pessoais (PCE, a medida preferida do Fed para inflação).
Para a consultoria britânica, “isso provavelmente não será suficiente para impedir que o Fed afrouxe a política monetária antes do que esperávamos anteriormente”, mas reforça a avaliação de que os mercados estão superestimando o grau de flexibilização que virá nos próximos 18 meses.
André Valério, economista-chefe do Inter, afirma que o dado atual indica que o repasse tarifário, caso ocorra, será adiado, principalmente devido à nova rodada de tarifas implementada em agosto.
A visão do Federal Reserve indica que o dado atual não influencia de forma relevante a decisão de política monetária, por ter ocorrido conforme o esperado. O relatório de mercado de trabalho de agosto, a ser publicado no dia 5, será determinante para determinar se haverá ou não o corte na taxa de juros em setembro.
Ele argumenta que o Internacional mantém a expectativa de que o mercado de trabalho americano continue apresentando sinais de deterioração, o que levará o Fed a reduzir as taxas de juros em 25 pontos básicos nas três reuniões restantes do ano.
Fonte por: Seu Dinheiro