A recuperação judicial anunciada pela Ambipar (AMBP3) na madrugada de terça-feira (21) e envolvendo uma dívida de R$ 10 bilhões, gerou atenção no mercado financeiro. A situação levanta questões sobre o cenário atual do crédito corporativo.
Análise de Especialistas
Pedro Ros, CEO da Referência Capital, observou que o movimento representa um novo período de avaliação no mercado de crédito. Ele destacou que, após anos de juros baixos e fácil acesso a capital, o aumento da Selic para 15% ao ano tornou os investidores mais cautelosos, elevando o custo de financiamento e diminuindo a tolerância a riscos.
Segundo Ros, empresas com alto endividamento, governança frágil ou estrutura financeira vulnerável estão sendo colocadas à prova. Ele acredita que a combinação de dívidas elevadas e custos altos atuará como um filtro, permitindo que apenas empresas sólidas, com transparência e liquidez real sobrevivam.
Visão Otimista e Estratégica
Fernando Bresciani, analista de investimentos do Andbank, avaliou o pedido de recuperação judicial da Ambipar como uma medida estratégica. Ele explicou que empresas em recuperação judicial normalmente enfrentam limitações, mas a Ambipar parece ter buscado preservar seu caixa devido à troca do Bank of America pelo Deutsche Bank.
Bresciani acredita que essa ação é assertiva, pois impede a saída de recursos, permite reestruturação e ajustes mais tranquilos nos pagamentos. Ele considera que a companhia continuará operando enquanto negocia com os credores sob supervisão judicial, com o juiz definindo as condições de pagamento.
Contexto da Crise Financeira da Ambipar
A crise da Ambipar ganhou força em 2025, após uma série de eventos que impactaram a confiança dos investidores. A primeira medida cautelar, obtida no Rio de Janeiro em setembro, suspendeu cláusulas contratuais que poderiam acelerar o vencimento de dívidas e exigir o cumprimento imediato de obrigações.
O objetivo era evitar que os credores cobrassem todos os pagamentos de uma só vez, enquanto a empresa buscava se reorganizar financeiramente. Essa ação foi motivada por uma operação de crédito com o Deutsche Bank, que exigiu garantias adicionais e consumiu rapidamente o caixa da empresa.
Impactos e Desafios
As ações da Ambipar acumularam queda de aproximadamente 93% até a véspera, em meio a especulações sobre a recuperação judicial. Em 12 meses, os papéis da companhia já caíram 95,67%, segundo o G1. A saída repentina do diretor financeiro, João Arruda, levantou suspeitas de irregularidades e agravou a crise de gestão, que se refletiu nos resultados financeiros da empresa.