Banco Central Encontra Desafios na Transmissão de Juros Altos
A taxa de juros nominal (Selic) em 15% ao ano, combinada com uma inflação entre 9% e 10%, tem gerado preocupações sobre uma possível recessão em diversos países. No entanto, o Brasil apresenta um cenário diferente, conforme avalia o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo.
Em entrevista a Bruno Serra, Galípolo destaca que a economia brasileira está respondendo à política monetária restritiva, porém, de forma mais lenta do que o esperado.
O presidente do BC aponta que existem falhas na maneira como os juros altos são transmitidos pela sociedade, dificultando uma desaceleração mais rápida da economia e da inflação. Essa situação se manifesta em um efeito da Selic em 15% ao ano que se mostra lento, levando o Banco Central a manter a estratégia de “juros elevados por mais tempo”.
Vazamento do Crédito e Disponibilidade de Liquidez
Apesar de alguns indicadores de crédito no Brasil indicarem desaceleração, Galípolo ressalta que essa não é a leitura do Banco Central. Ele observa que o crédito ainda apresenta um crescimento “surpreendente” tanto no mercado de capitais quanto via bancos, o que contribui para a disponibilidade de renda e, consequentemente, para a inflação.
O presidente do BC explica que um dos desafios é a existência de instrumentos como a caderneta de poupança, que, apesar de ser um instrumento de liquidez diária, financia o setor imobiliário, gerando distorções na transmissão dos juros.
Renda Extra no Rotativo e Impacto da Poupança
Galípolo cita outro exemplo: o uso do crédito especial das contas correntes, que muitas vezes é visto pelos brasileiros como uma “renda extra”, em vez de uma dívida. Ele enfatiza que a percepção de dívida só surge quando o pagamento não é realizado, gerando atrasos.
O presidente do BC destaca que a lentidão na transmissão dos juros é agravada por esses instrumentos, que operam independentemente da Selic, dificultando o trabalho do Banco Central.
Selic Manter-se em Patamar Elevado
Gabriel Galípolo reafirma que a Selic é o único instrumento para alcançar a meta de inflação de 3%. A autoridade monetária não pretende se desviar de manter a taxa em patamar elevado pelo tempo necessário para garantir a convergência.
Os últimos dados econômicos não indicam mudanças na postura do Banco Central, confirmando a tendência já esperada pelos diretores. A principal questão, segundo Galípolo, é a lentidão na transmissão dos juros, que exige a manutenção da Selic em nível elevado.
