A Credibilidade do Banco Central e a Taxa de Juros
A busca por uma política monetária eficaz frequentemente envolve a consideração de escolhas aparentemente contraintuitivas. Uma proposição interessante reside na ideia de que, para conviver com taxas de juro mais baixas, a sociedade deveria optar por nomear um banqueiro central com uma orientação “hawkish” e “percebida como hawkish”.
Essa abordagem, que envolve um gestor central com uma postura mais rigorosa em relação à inflação, pode ser crucial para estabelecer credibilidade e, consequentemente, influenciar as expectativas de inflação.
A Importância da Percepção de Credibilidade
A credibilidade do banqueiro central é um fator fundamental para ancorar as expectativas de inflação. Alan Blinder, em seu clássico “Central Bank Credibility: Why Do We Care? How Do We Build It?”, publicado na American Economic Review em 2000, enfatiza que um banco central é crível se as pessoas acreditam que ele fará o que fala.
Essa percepção de compromisso com a estabilidade de preços evita antecipações de reajustes de preços, contribuindo para um ambiente de menor incerteza.
O Caso de Gabriel Galípolo
A nomeação de Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central brasileiro levanta questões sobre a viabilidade dessa estratégia. A desconfiança em relação a um histórico mais heterodoxo e à proximidade com o poder Executivo pode dificultar a construção da credibilidade necessária para ancorar as expectativas de inflação.
A percepção de que o gestor central pode estar sujeito a pressões políticas pode resultar em uma manutenção de juros mais altos por um período prolongado.
A Selic e a Construção da Credibilidade
A taxa Selic, determinada pelo Comitê de Política Monetária (Copom), é um instrumento-chave para controlar a inflação. A percepção de que o Copom está disposto a subir a taxa básica de juros, mesmo que de forma temporária, pode ser um sinal de compromisso com a estabilidade de preços.
A expressão “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue apropriado” utilizada em um comunicado do Copom, demonstra a intenção de transmitir uma mensagem clara sobre a disposição de agir para controlar a inflação.
Consequências da Falta de Credibilidade
A falta de credibilidade do banqueiro central pode ter consequências negativas para a economia. Se as expectativas de inflação não forem ancoradas, a economia pode enfrentar um período de alta inflação, com impactos negativos para o consumo, o investimento e o crescimento econômico.
A manutenção de juros altos por um período prolongado, como tem ocorrido no Brasil, reflete a necessidade de “provar que é sério” e estabelecer a credibilidade do Banco Central.
A Credibilidade como Ferramenta de Política Monetária
A busca por uma política monetária eficaz exige a consideração de fatores como a credibilidade do banqueiro central. A escolha de um gestor com uma postura rigorosa em relação à inflação, e que seja percebido como tal, pode ser crucial para ancorar as expectativas de inflação e, consequentemente, influenciar as taxas de juros.
A credibilidade do Banco Central é um elemento fundamental para garantir a estabilidade econômica e o bem-estar da população.
