Bolsas na Europa comemoram oportunidade de encontro entre Putin e Zelensky, porém há muito em jogo — inclusive para Trump

Os mercados europeus encerraram nesta terça-feira com alta, contudo, ainda é prematuro celebrar o encontro entre Putin e Zelensky.

19/08/2025 14:52

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O presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, podem se encontrar pela primeira vez desde 2019, e o mercado está respondendo positivamente à possibilidade de a guerra no leste europeu terminar.

As principais bolsas da Europa encerraram na terça-feira (19) com avanços, com o setor de defesa apresentando recuo, em decorrência do encontro entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o chefe de Estado ucraniano.

Em conversas na Casa Branca na segunda-feira (18), Trump propôs assistência e assegurou segurança à Ucrânia para impedir que a Rússia reativasse o conflito no futuro.

Essa sinalização, aliada à notícia de que o republicano iniciou os preparativos para um encontro entre Zelensky e Putin e, posteriormente, uma reunião trilateral na qual Trump se juntaria aos dois líderes, influenciou as negociações nos mercados europeus.

O índice pan-europeu Stoxx 600 encerrou o dia com alta de 0,69%, com Londres, Frankfurt e Paris subindo 0,34%, 0,50% e 1,21%, respectivamente.

A perspectiva de paz entre russos e ucranianos, contudo, influenciou as ações de empresas europeias do setor de defesa. A alemã Renk desvalorizou-se 6,67%, a italiana Leonardo apresentou queda de 10,16%, a espanhola Indra registrou recuo de 4,31% e a sueca Saab teve queda de 7,02%.

Trump afirmou: “cada um precisa fazer a sua parte”.

Apesar de defender a conclusão do conflito entre Rússia e Ucrânia, Trump não deixou de enviar sua mensagem. Em entrevista à Fox News na manhã desta terça-feira (19), o presidente norte-americano afirmou que espera que Zelensky “faça o que for necessário”, mas ressaltou que o líder ucraniano precisa ser “flexível” nas negociações.

O republicano também demonstrou ter o controle da situação ao deixar claro que Zelensky e Putin não se tornarão “melhores amigos”, mas observou que os dois líderes estão se dando um pouco melhor do que o esperado e que são eles que precisam dar as ordens.

Todavia, o encontro entre o russo e o ucraniano permanece incerto, visto que o Kremlin ainda não confirmou se Putin concorda em negociar diretamente com Zelensky.

Na segunda-feira (18), o assessor presidencial russo, Yuri Ushakov, declarou que Trump e Putin conversaram sobre “o que seria necessário estudar a viabilidade de aumentar o número de representantes dos dois lados”, embora tenha enfatizado que nenhuma decisão definitiva foi alcançada.

Trump busca a reunião entre Putin e Zelensky.

A reunião de Putin e Zelensky em um mesmo espaço não é uma tarefa simples — a quem diga, será o maior desafio diplomático de Trump. Negociar um cessar-fogo e uma paz duradoura que impeça a Rússia de invadir a Ucrânia novamente.

Na mesa de negociações estarão questões cruciais, incluindo um mecanismo para proteger a Ucrânia a longo prazo e garantias de segurança para a Europa e os Estados Unidos que Zelensky busca que Putin concorde.

Ademais, mesmo que a Rússia apoie um acordo, persistirá ceticismo em relação à sua fidelidade às promessas, considerando que a Rússia já violou certos compromissos referentes à invasão da Ucrânia.

Apesar dos ataques aos territórios não terem parado, Trump afirmou ontem (18) que as garantias de segurança para a Ucrânia seriam asseguradas pelos países europeus, em colaboração com os Estados Unidos.

O pacote de garantias é um ponto central para Kiev, que considera a iniciativa como uma maneira de evitar novas agressões russas. Após o encontro, Zelensky classificou a declaração de Trump como um “grande avanço”.

O presidente ucraniano declarou que o pacote de garantias compreenderá a aquisição em larga escala de armamentos norte-americanos, com financiamento suportado pela Europa. Adicionalmente, Zelensky indicou que o acordo seria “formalizado entre uma semana e dez dias”.

Já Trump comentou em uma coletiva de imprensa após as negociações que os países europeus assumiriam grande parte do ônus, mas os Estados Unidos ajudariam e tornariam o processo muito seguro.

Na terça-feira (19), o presidente francês, Emmanuel Macron, declarou que a “primeira garantia de segurança” e a mais relevante é um robusto exército ucraniano, formado por centenas de milhares de soldados, bem equipado, com sistemas de defesa e padrões elevados.

A segunda consiste em disponibilizar forças de segurança, britânicas, francesas, alemãs, turcas e outras, prontas para conduzir essas operações – não na linha de frente, não de forma provocativa, mas operações de segurança no ar, no mar e em terra. O objetivo é transmitir um sinal estratégico: a paz na Ucrânia também é nossa preocupação.

Zelensky tem exigências e Putin também.

Apesar do pacote de garantias de segurança à Ucrânia incluir a Europa e os Estados Unidos, a adesão à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) parece improvável — e essa é uma demanda antiga de Putin, que não deseja que os ucranianos façam parte da aliança.

O primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico, expressou sua oposição à adesão da Ucrânia em uma publicação no X (anteriormente Twitter).

Afirmei que, desde o início da guerra, recusar a adesão da Ucrânia à OTAN como um pré-requisito fundamental para o fim do conflito, me causou uma forte crítica pública. Atualmente, o fato de a Ucrânia não integrar a OTAN é considerado um assunto já estabelecido.

Trump já afirmou que o país não se uniria à OTAN e que a Rússia exige que essa aliança seja reiterada e ratificada.

Ademais, o Kremlin almeja o controle absoluto sobre o Donbass, o que demandaria que Kiev renunciasse aos territórios que ainda ocupa nas regiões de Donetsk e Luhansk. Em contrapartida, a Rússia estabilizaria os avanços nas frentes de batalha em Zaporizhzhia e Kherson.

Putin também alega o reconhecimento da Crimeia como parte do território russo.

Ainda não há um local definido para o possível encontro entre Putin e Zelensky, embora a Suíça esteja sendo considerada para sediar a reunião.

A Suíça, além de obter o apoio do presidente francês, tem procurado sediar negociações para aumentar sua importância diante dos cortes financeiros nas agências da Organização das Nações Unidas (ONU) da região.

Alcançar a diminuição da taxa de 39% aplicada pelos EUA ao se unir a Trump para colaborar com o encerramento do conflito entre Rússia e Ucrânia representa uma prioridade da política externa do republicano.

Em meio às preparações para o possível encontro entre Zelensky e Putin, o governo suíço chegou a afirmar que o líder russo obteria imunidade para entrar no país, desde que a viagem fosse realizada com o intuito de negociar a paz, e não por motivos pessoais.

O Tribunal Penal de Haia emitiu uma ordem de prisão contra Putin em 2023, relacionada a crimes de guerra após a deportação de centenas de crianças da Ucrânia.

Apesar das concessões propostas, Putin estaria hesitante em realizar a reunião na Europa Ocidental após a Suíça ter aderido às sanções da União Europeia (UE).

De acordo com informações da Reuters, CNBC, BBC News.

Fonte por: Seu Dinheiro

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