Conselho de Investimentos: Debate e Remuneração de Assessores
Assessores de investimento recebem remuneração que pode influenciar seus incentivos.
Conversa sobre Remuneração de Assessores de Investimento
Os assessores de investimento estão no centro de um debate crescente, impulsionado pela evolução do mercado financeiro e pelas expectativas dos investidores. A forma como esses profissionais são remunerados – seja por comissão ou taxa fixa – impacta diretamente os incentivos, a confiança e a qualidade do atendimento oferecido.
O objetivo é entender como esses modelos se encaixam no cenário atual e como podem gerar valor para o cliente.
Modelo Commission Based: Virtudes e Fragilidades
O modelo commission based, ainda predominante no mercado brasileiro, é baseado em comissões e rebates provenientes de instituições financeiras, como gestoras, bancos e plataformas. Para o cliente, essa remuneração pode parecer “gratuita”, mas essa percepção esconde um risco: o conflito de interesses.
O assessor pode ser influenciado pelo produto que gera maior comissão, levando a recomendações que não são necessariamente as melhores para o investidor.
Casos recentes, como os envolvendo os COEs da Ambipar e da Braskem, ilustram essa fragilidade. A agressividade das campanhas de venda, focada em promover os produtos, superou a análise de risco e a busca pelo que seria mais adequado para o plano de investimento do cliente, gerando a sensação de que o investidor foi “vendido” em vez de receber assessoria.
Modelo Fee Based: Alinhamento e Desafios
O modelo fee based, que envolve a cobrança de uma taxa fixa, geralmente um percentual sobre o patrimônio assessorado, surge como uma alternativa para mitigar esses conflitos. Ao remover a dependência do produto como fonte de remuneração, o assessor é incentivado a focar no planejamento financeiro, sucessório e tributário, buscando o longo prazo e o que realmente é melhor para o cliente.
No entanto, a transição para o fee based nem sempre é bem-sucedida. Muitos consultores que adotaram esse modelo passaram a reduzir o contato com os clientes, devido à falta de incentivo das transações. O cliente pagava a taxa, mas sentia falta de acompanhamento e suporte, o que gerava insatisfação.
Barreiras Culturais e Econômicas
O cenário econômico brasileiro impõe desafios adicionais. Com juros altos, como os registrados em 2023, a renda fixa já oferece bons retornos com baixo risco. Para muitos investidores, pagar 1% ao ano por uma assessoria que recomenda produtos de renda fixa pode parecer caro, especialmente quando o commission based parece “gratuito”.
Essa percepção influencia a escolha do modelo, que depende do cenário econômico. Em momentos de juros altos, o commission based pode ser mais atrativo, enquanto em momentos de juros baixos, o fee based tende a ser mais vantajoso.
Contexto Global vs. Brasileiro: Realidades Diferentes
Nos Estados Unidos, o modelo fee based domina, impulsionado por um contexto diferente: juros baixos, inflação controlada e um mercado em que a maior parte dos investidores está em renda variável. Além disso, existe um dever fiduciário legal, que obriga os consultores a agir no melhor interesse do cliente.
Nos EUA, o fee based responde por 83% da receita dos departamentos de investimento dos grandes bancos, e cerca de metade dos ativos sob assessoria seguem esse modelo. O investimento é visto como um custo-benefício, e não como uma questão ideológica.
Regulação e Transparência
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) tem intensificado a fiscalização, com a Resolução CVM 179 de 2024, que exige que as corretoras detalhem todos os custos antes da execução e os reportem trimestralmente. Essa transparência tira a ilusão da “assessoria gratuita” e permite que o cliente compareça o que recebe em troca.
Tecnologia e Comportamento
A tecnologia também está transformando o mercado. Robo-advisors, plataformas digitais e apps de gestão patrimonial oferecem alternativas baratas e automatizadas. Para se diferenciar, o assessor humano precisa de tecnologia própria, inteligência emocional e acompanhamento personalizado.
O Futuro: Modelos Híbridos e Segmentados
O futuro da assessoria é híbrido e segmentado. Para investidores iniciantes, o commission based continuará relevante, pela acessibilidade. Para clientes de alta renda e carteiras complexas, o fee based tende a dominar, com serviços de planejamento, alocação global e sucessão.
O importante é que o cliente entenda o que está pagando — e por quê.
Autor(a):
Redação
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