Paralisação dos Serviços Públicos nos EUA e seus Impactos
Desde 1º de outubro, diversos serviços públicos dos Estados Unidos foram interrompidos devido à falta de acordo entre o Congresso sobre o projeto orçamentário, gerando uma paralisação conhecida como ‘shutdown’. Essa situação afeta setores como o aéreo, o turismo, o pagamento de benefícios e a distribuição de verbas.
Uma cidade específica, localizada na Costa Leste dos EUA, na Virgínia Ocidental, e onde 67% da população votou em Donald Trump, está sofrendo com as consequências de forma mais acentuada. A cidade de Martinsburg, com cerca de 20 mil habitantes, abriga 3.300 empregados de agências federais, incluindo um hospital de veteranos, uma unidade do Internal Revenue Service (IRS, equivalente à Receita Federal dos EUA) e um escritório de assistência agrícola.
Outros mil funcionários públicos, que viajam diariamente para Washington DC (a apenas 136 km de distância), também estão afetados. Jonathan Giba, um veterano de guerra, que se mudou para um abrigo temporário para ex-combatentes, enfrenta atrasos em consultas médicas e odontológicas, devido à falta de medicamentos após a sua perda de dentes e incapacidade de andar.
O hospital do Departamento de Assuntos de Veteranos dos EUA (VA) continua a oferecer atendimento médico, mas já interrompeu alguns programas. Marcellus Brothers, um veterano da força aérea norte-americana, expressa preocupação com o futuro, descrevendo a situação como “assustadora”. Até o momento, mais de 700.000 pessoas estão em licença não remunerada, enquanto cerca de 200.000 trabalhadores essenciais estão trabalhando sem remuneração.
A paralisação é a 15ª desde 1981, sendo a mais longa durante o primeiro mandato de Trump, que durou 35 dias. Em um estado que já enfrentava cortes de emprego promovidos pelo presidente norteamericano, essa interrupção dos serviços ameaça ainda mais a Virgínia Ocidental, conforme Kelly Allen, diretora-executiva do Centro de Orçamento e Política da Virgínia Ocidental.
“Temos mais funcionários do governo federal do que mineradores de carvão — um dos principais motores econômicos do estado — na Virgínia Ocidental”, afirma ela à BBC. “É claro que esses empregos são bem remunerados, vêm com bons benefícios e, em um estado com poucos empregos bem remunerados, isso é muito importante.”
O Centro de Serviços do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), responsável por auxiliar agricultores, pecuaristas e proprietários de terras, já fechou suas portas e só reabrirá a mando do governo. O setor de serviços de Martinsburg também pode ser afetado em breve, devido à licença de 34.000 trabalhadores do IRS.
Impacto Econômico da Paralisação
A paralisação do governo americano já começa a pesar sobre a economia. Economistas estimam que cada semana de interrupção pode reduzir entre 0,1 e 0,2 ponto percentual do Produto Interno Bruto (PIB) do país. O fluxo de dados oficiais praticamente parou, prejudicando análises e decisões de política econômica.
O Escritório de Estatísticas Trabalhistas (BLS), responsável pelos principais indicadores do mercado de trabalho, adiou o relatório de empregos da semana passada, mas convocou parte da equipe para produzir o mais recente índice de preços ao consumidor (CPI). Outros relatórios cruciais, como os de vendas no varejo, início de construções e estoques empresariais do Censo, também correm risco de atraso.
O Escritório de Análise Econômica (BEA) suspendeu suas atividades antes da divulgação da estimativa inicial do PIB do terceiro trimestre, prevista para 30 de outubro. Sem esses dados, o Federal Reserve (Fed) e analistas privados ficam “às cegas” — sem parâmetros confiáveis para avaliar o ritmo da economia e calibrar decisões de juros.
Esses indicadores são fundamentais não apenas para o mercado financeiro, mas também para os ajustes anuais de inflação do governo federal, que determinam reajustes no custo de vida, faixas de imposto de renda, subsídios de empréstimos e análises de custo-benefício de programas públicos.