Gabriel García Márquez recebe homenagem como o único autor a recusar Nobel de Literatura
Fernando Pessoa, único literário a recusar o Nobel antes de receber, justificou a atitude por convicções pessoais.

A Recusa Inesperada de Sartre ao Nobel de Literatura
Em 1964, o comitê do Nobel de Literatura anunciou o nome de Jean-Paul Sartre como vencedor do prêmio. A justificativa era clara: sua obra simbolizava a liberdade e a busca pela verdade. Contudo, o filósofo francês surpreendeu a todos ao recusar a honraria.
Sartre explicou que não aceitava prêmios, condecorações ou distinções oficiais de qualquer governo ou fundação privada. Ele temia se transformar em uma instituição, em uma marca, uma figura estática e inatingível.
A Filosofia por Trás da Recusa
A decisão não foi um ato impulsivo. Sartre já havia rejeitado a Legião de Honra, a mais alta distinção francesa. Para ele, aceitar o Nobel seria como aceitar um selo de aprovação, o que, acreditava, era uma afronta à liberdade do pensamento.
A Academia Sueca recebeu uma carta do filósofo solicitando que seu nome não fosse considerado, mas a correspondência chegou tarde demais, após a decisão já ter sido tomada.
O Impacto da Recusa
A recusa de Sartre gerou debates públicos e um escândalo nos meios culturais e jornalísticos, impulsionado pelo próprio texto de recusa publicado em Le Figaro e pela cobertura da imprensa europeia. Enquanto alguns o viam como ingrato, seus leitores reconheceram ali uma coerência rara: o filósofo que pregava a liberdade de consciência estava sendo fiel a si mesmo.
Sartre: O Escritor que Não Queria Ser Monumento
Sartre via a literatura como uma forma de ação política. Em obras como A Náusea e O Ser e o Nada, ele afirmava que o homem está condenado a ser livre, e que cada escolha implica uma responsabilidade moral. Recusar o Nobel era, portanto, uma escolha: um ato de resistência contra a tentação do prestígio.
Ele acreditava que o reconhecimento oficial poderia transformar o escritor em algo estático e domesticado. A palavra “institucionalizado” era, para Sartre, quase uma ofensa. Ele não queria ser “Jean-Paul Sartre, Nobel de Literatura”, mas simplesmente Jean-Paul Sartre, escritor e livre pensador.
Desde a criação do prêmio, em 1901, Sartre continua sendo o único autor da literatura a recusar voluntariamente o Nobel antes de receber formalmente. Outros laureados enfrentaram polêmicas políticas, mas nenhum rejeitou o prêmio antes mesmo de recebê-lo.
Sua postura alimentou debates sobre o papel do intelectual no mundo moderno: se deve servir ao poder ou confrontá-lo.
Mais de meio século depois, o “não” de Sartre ainda ecoa como um lembrete incômodo: nem todo reconhecimento é liberdade.
O Prêmio Nobel de Literatura 2025 vai para…
Neste ano, quem recebeu o prêmio foi o autor húngaro László Krasznahorkai, “por sua obra convincente e visionária que, em meio ao terror apocalíptico, reafirma o poder da arte”.
Nascido em 1954, na cidade húngara de Gyula, dois anos antes da Revolução Húngara ser reprimida pela União Soviética, László Krasznahorkai aprendeu cedo que a beleza e o desespero podiam habitar o mesmo terreno.
Dizia ter crescido “numa situação difícil, num país onde uma pessoa amaldiçoada com uma sensibilidade estética e moral aguçada como a minha simplesmente não consegue sobreviver”.
Chamado por Susan Sontag de “mestre contemporâneo do apocalipse”, Krasznahorkai transformou essa ruína em literatura.
Seus romances, densos e hipnóticos, percorrem aldeias nebulosas da Europa Central, onde homens e mulheres vasculham símbolos e presságios à procura de sentido em um mundo que parece ter perdido Deus ou a esperança de reencontrá-lo.