J&F entra no setor nuclear com compra da Eletronuclear por R$ 535 milhões

J&F, liderada por Joesley e Wesley Batista, assume controle total da Eletrobras (ELET3) e inicia operação no setor de energia nuclear.

15/10/2025 10:47

4 min de leitura

J&F entra no setor nuclear com compra da Eletronuclear por R$ 535 milhões
(Imagem de reprodução da internet).

J&F Adquire Eletronuclear em Negócio de R$ 535 Milhões

Os irmãos Joesley e Wesley Batista, através da J&F, acabaram de dar os primeiros passos no setor de energia nuclear com a aquisição da Eletronuclear (ELET3) por R$ 535 milhões. O anúncio foi feito pelas companhias nesta quarta-feira (15). A Eletronuclear, fundada em 1997, é responsável pelo Complexo Nuclear de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, e opera as usinas Angra 1, 2 e 3.

Operação e Assessoria

O negócio está sujeito à aprovação dos órgãos reguladores e foi assessorado pelo banco BTG Pactual, com a operação tendo iniciado em 2023. A J&F assumirá as garantias prestadas pela Eletrobras em favor da Eletronuclear e adotará as providências necessárias com os credores e parceiros da empresa.

Responsabilidades Adicionais

Além disso, a J&F se tornará responsável pela integralização das debêntures que fazem parte do termo de conciliação firmado com a União, no valor de R$ 2,4 bilhões. Isso significa que a Eletrobras ficará totalmente livre de eventuais responsabilidades remanescentes com a Eletronuclear.

Impacto no Mercado

As ações da Eletrobras (ELET3) abriram o dia em alta. Por volta das 10h40, o papel subia 2,03%, para R$ 52,90. O movimento reflete a percepção de que a venda da Eletronuclear representa uma oportunidade para a empresa se concentrar em áreas de maior potencial de crescimento.

A Eletronuclear: Uma Visão Geral

Fundada em 1997, a Eletronuclear é responsável pelas usinas Angra 1, 2 e 3. Atualmente, apenas duas das usinas estão em operação: Angra 1 (640 megawatts) e Angra 2 (1350 megawatts). Isso ocorre devido à obrigação de construir a Angra 3, que ainda possui 67% da obra concluída.

A empresa é responsável pela geração de aproximadamente 3% da energia elétrica consumida no Brasil e mais de 30% da eletricidade consumida no Rio de Janeiro. Em 2022, a empresa passou por uma nova estrutura societária, com a Eletrobras detendo 68% das ações e a Empresa Brasileira de Participações em Energia (ENBPar) possuindo 32,05% do total de ações.

Em 2022, a empresa investiu pesadamente para estender a vida útil da usina de Angra 1 por mais 20 anos. “Esse êxito representa um passo fundamental para a segurança energética do país, embora ainda tenhamos muitos desafios a enfrentar”, disse o presidente da Eletronuclear, Raul Lycurgo Leite, em comunicado de divulgação de resultados.

Angra 3: Um Projeto em Andamento

A usina Angra 3 está prevista para ser concluída como uma réplica de Angra 2, com uma geração potencial de 1405 megawatts. Agora, a J&F assume junto ao governo federal a tarefa hercúlea de tirar o projeto do papel.

Um estudo realizado pelo BNDES a pedido da Eletronuclear, divulgado em 2024, indicou que o custo para retomar as obras de Angra 3 seria de R$ 23 bilhões. Esse valor é ligeiramente superior ao custo estimado para abandonar completamente o projeto, de R$ 21 bilhões. O total investido até agora é de R$ 7,8 bilhões.

Expansão da J&F no Setor de Energia

A transação marca um passo importante para a J&F na sua estratégia de expansão no setor de energia. O conglomerado dos Batista já tem seu nome gravado no segmento por meio da Âmbar Energia, que atua em diversas frentes: geração, transmissão e comercialização de energia.

A Âmbar se apresenta hoje como a segunda maior geradora privada de energia a gás natural do Brasil em capacidade instalada — e segue ampliando seu portfólio. Atualmente, a companhia conta com 50 ativos, que englobam uma ampla gama de negócios, incluindo geração hidrelétrica, solar, biomassa, biogás, além das térmicas a gás natural e carvão mineral.

Foi justamente por meio da Âmbar Energia que a J&F adquiriu hoje a participação na Eletronuclear, marcando a entrada da companhia na geração de energia nuclear, de acordo com o comunicado.

“A energia nuclear combina estabilidade, previsibilidade e baixas emissões, características fundamentais em um momento de descarbonização e de crescente demanda por eletricidade impulsionada pela inteligência artificial e pela digitalização da economia”, afirma Marcelo Zanatta, presidente da Âmbar Energia, em comunicado.

Análise dos Especialistas

Na avaliação de Ruy Hungria, analista da Empiricus Research, embora o montante da transação seja pouco representativo para a Eletrobras, a venda da Eletronuclear para a J&F tem um impacto líquido bastante positivo.

“A Eletronuclear tem sido um problema há décadas para a Eletrobras, seja pela falta de resultados ou pelas obrigações bilionárias na construção e manutenção das usinas”, avaliou Hungria.

Para o analista, esse movimento não só melhora a alocação de capital da Eletrobras, liberando recursos para investimentos em negócios com retornos mais atrativos, mas também elimina riscos de crédito ou de futuros aportes associados à Eletronuclear.

Autor(a):