Kodak retorna à moda analógica em meio a flashes e dívidas, porém enfrenta risco de ser descontinuada do mercado
Empresa responsável pela criação do “momento Kodak” enfrenta nova crise de sobrevivência devido a dívidas e receitas em declínio.
A Kodak fixou lembranças em fotografias e construiu heranças por meio de gerações de álbuns de família. Contudo, 133 anos após o primeiro registro, a empresa que ensinou a sorrir para a câmera se vê agora embaçada: falida e com sério risco de ser extinta.
A Eastman Kodak (KODK) identificou no segundo trimestre passivos significativos que comprometem sua habilidade de manter suas operações. A companhia pode não ter recursos para quitar compromissos com vencimentos até 12 meses.
O aviso provocou a queda de mais de 13% nas operações em Nova York em um único dia. No acumulado do ano, a desvalorização já ultrapassa 15%, com os títulos avaliados em US$ 6,24.
A Kodak não possui financiamento garantido nem liquidez suficiente para saldar suas dívidas em 2024. A empresa encerrou o mês de junho com US$ 155 milhões em caixa, porém, a maior parte se encontra fora dos Estados Unidos, restringindo seu aproveitamento.
Na mesma época, obteve uma perda líquida de US$ 26 milhões, uma queda de 200% em relação ao lucro de US$ 26 milhões no ano anterior. O lucro bruto também diminuiu 12%, para US$ 51 milhões.
Para solucionar a questão, a Kodak optou por cancelar o plano de aposentadoria dos funcionários e empregar os recursos para quitar credores. O objetivo é reduzir significativamente o empréstimo de longo prazo antes do seu prazo final e buscar renegociar o saldo restante.
O encerramento do nosso Plano de Renda de Aposentadoria Kodak nos EUA e a subsequente reversão dos fundos excedentes para quitar dívidas estão progredindo conforme o planejado. Prevemos ter um entendimento claro até 15 de agosto sobre como cumpriremos nossas obrigações com todos os participantes do plano e prevemos concluir a reversão até dezembro de 2025, disse o comunicado da empresa.
Kodak entre flashes e desaparecimentos
A falência da Kodak não é recente. Estabelecida em 1880 por George Eastman, a empresa tornou a fotografia acessível ao grande público. Câmeras como a Brownie e a Instamatic se tornaram populares, e a expressão “momento Kodak” passou a representar uma recordação valiosa.
O sucesso foi prejudicado pelo avanço da tecnologia digital. Curiosamente, a própria empresa desenvolveu um protótipo de câmera digital na década de 1970, porém não implementou a ideia devido ao receio de afetar as vendas de filmes fotográficos. Foi um erro crucial.
Na década de 2000, a Kodak já havia perdido espaço para concorrentes japoneses e para a fotografia digital. A empresa entrou em recuperação judicial em 2012 e alienou parte de seus ativos e patentes para se manter no mercado. Retomou suas atividades em 2013, com uma atuação reduzida, concentrada em impressão comercial, químicos e materiais avançados.
Recentemente, as câmeras e filmes da Kodak descobriram um novo público: a geração Z.
Jovens que se desenvolveram na era do celular recuperam câmeras antigas como maneira de se desvincular da estética “ideal” das redes sociais. O setor da moda experimentou um aumento repentino nas vendas de filmes fotográficos. Entre 2015 e 2019, a produção de rolos duplicou.
A procura elevou a pressão sobre a unidade de Rochester, que necessitou expandir sua capacidade. O processo foi denominado “rebelião contra a perfeição digital”.
Contudo, a saudade não tem sido suficiente para compensar as despesas.
O futuro incerto de um ícone
Atualmente, além da fotografia, a empresa investe em novos negócios, como a produção de insumos químicos para a indústria farmacêutica.
A empresa já produz matérias-primas essenciais não regulamentadas para o setor e está finalizando uma construção para os produtos regulamentados. A produção na unidade reformada está prevista para iniciar este ano.
As dívidas permanecem o principal entrave.
A possibilidade de a Kodak não conseguir superar a nova crise evoca o destino de outros grandes setores que faleceram por não acompanhar o ritmo da inovação.
A Polaroid, pioneira na fotografia instantânea, não conseguiu se adaptar à era digital e entrou em falência em 2001. Já a Blockbuster, líder nas locadoras de vídeo, não soube responder ao streaming e encerrou suas atividades em 2010.
Todas compartilhavam a liderança em seus respectivos campos e o mesmo equívoco: negligenciar os sinais de mudança.
Considerando o volume de dívidas e a ausência de caixa, a questão que paira em Wall Street é se haverá mais um “momento Kodak” ou se o destino final da empresa já está prestes a ser revelado.
Fonte por: Seu Dinheiro