Marie Curie conquista Nobel após morte do marido em trágico acidente
Marie Curie, pioneira da física e química, continua sendo uma das cientistas mais influentes da história, transcendendo o prêmio Nobel.

Marie Curie: Uma Revolução Científica Forjada no Luto
Em 1906, um cavalo em disparada causou a morte de Pierre Curie, físico, pesquisador, companheiro de laboratório e marido de Marie Curie, uma figura que transformaria o luto em revolução científica. O trágico acidente marcou o início de uma jornada científica extraordinária, impulsionada pela dor e pela busca incessante pelo conhecimento.
Três anos antes, o casal havia conquistado o Prêmio Nobel de Física pela descoberta da radioatividade, um fenômeno tão novo que ainda não tinha um nome definido. A morte de Pierre, no entanto, deixou Marie sozinha com duas filhas e um vazio que nenhuma equação conseguia preencher.
Isolamento de Elementos Químicos
Sem o marido e sem recursos, Marie continuou os experimentos em um barracão improvisado, entre vapores e minerais que brilhavam à noite – um brilho bonito, perigoso e mortal. Ali, isolou dois novos elementos químicos, o rádio e o polônio, redefinindo os limites do invisível.
Marie manipulava substâncias radioativas sem proteção, sem luvas, sem saber que o mesmo brilho que encantava seus olhos corroía seu corpo por dentro. Décadas depois, morreria de anemia aplástica, causada pela exposição contínua à radiação. Os cadernos que usou ainda hoje são radioativos, guardados em cofres de chumbo na França.
Primeira Guerra e “Petites Curies”
Durante a Primeira Guerra Mundial, Marie criou unidades móveis de raio-X – as “Petites Curies” – e levou a tecnologia aos campos de batalha para salvar soldados feridos. Essa iniciativa demonstra sua dedicação e engenhosidade, utilizando o conhecimento científico para fins de assistência humanitária.
Segundo Nobel
O brilho do rádio iluminou laboratórios e vitrines. Por um tempo, virou moda: cremes, relógios e brinquedos usavam compostos radioativos, como se a luz invisível de Marie Curie tivesse se espalhado pelo mundo. Mas ela nunca se interessou pela fama.
Em 1911, cinco anos após a morte de Pierre Curie, Marie se envolveu em um relacionamento com o físico francês Paul Langevin – que havia sido aluno e colaborador de Pierre. A cientista tornou-se alvo de ataques, e a perseguição foi tamanha que manifestantes cercaram a casa de Marie em Paris e ela precisou se refugiar com as filhas.
Diante da pressão pública, a Academia Sueca anunciou que Marie havia vencido o Prêmio Nobel de Química de 1911 – o segundo de sua carreira. Curie respondeu com firmeza: “O prêmio foi concedido pelos meus méritos científicos. Não há relação entre minha vida privada e minhas descobertas.”
Influência e Legado
Mais de um século depois, Marie Curie continua sendo uma das cientistas mais influentes de todos os tempos. O Instituto Curie, fundado por ela, ainda é referência mundial em pesquisa médica. De quebra, sua filha, Irène Joliot-Curie, também ganhou o Nobel de Química, em 1935.
A química, inclusive, era a área de conhecimento mais importante para o trabalho de Alfred Nobel (1833-1896), criador do prêmio.
Prêmio Nobel de Química de 2025
A química, inclusive, era a área de conhecimento mais importante para o trabalho de Alfred Nobel (1833-1896), criador do prêmio. Hoje (8), o Prêmio Nobel de Química de 2025 foi outorgado hoje a Susumu Kitagawa, da Universidade de Kyoto, no Japão, Richard Robson, da Universidade de Melbourne, na Austrália, e Omar M. Yaghi, da Universidade da Califórnia, Berkeley, nos EUA.
O trio foi laureado pelo desenvolvimento das estruturas metal-orgânicas, conhecidas como MOFs (metal-organic frameworks). Tratam-se de materiais ultraporosos capazes de capturar, armazenar e separar moléculas em nível atômico. Essas construções, estruturas metalorgânicas, podem ser usadas para extrair água do ar do deserto, capturar dióxido de carbono, armazenar gases tóxicos, separar os químicos eternos — chamados de PFAS — da água, catalisar reações químicas e até administrar medicamentos.
“Imagine que, com as ferramentas químicas, pudéssemos criar materiais inteiramente novos com propriedades desconhecidas. Imagine que pudéssemos fazer materiais sólidos cheios de pequenos espaços, nos quais moléculas de gás podem se sentir em casa e com propriedades químicas que podem ser ajustadas de acordo com a necessidade de diferentes moléculas”, disse Heiner Linke, presidente do Comitê Nobel de Química, durante apresentação dos prêmios.
É como se fosse um lego microscópico feito de metais e moléculas orgânicas. As peças se encaixam e formam materiais cheios de minúsculos buracos e canais, como uma esponja invisível. A diferença é que esses buracos são tão pequenos que conseguem abrigar somente átomos ou moléculas. E é justamente isso que torna os MOFs tão úteis.