Reação do Mercado à Morte de CEO: Lições da Experiência da UnitedHealth Group
A vice-presidente da Transcontinental Airlines (TCA) convocou uma reunião de emergência na sede da empresa, no Rio de Janeiro, em resposta a um cenário que ecoa narrativas de novela. A trama, criada pela autora de “Vale Tudo”, Manuela Dias, explora a reação do mercado financeiro à morte de sua CEO, a bilionária Odete de Almeida Roitman, assassinada a tiros em uma suíte do Copacabana Palace. A situação, com um CEO de uma companhia aérea sendo vítima de um crime violento, levanta questões cruciais sobre a estabilidade e confiança no mercado.
Um exemplo recente ilustra o impacto potencial. A morte do CEO da UnitedHealth Group em novembro do ano passado, Brian Thompson, ao se dirigir ao Investor Day da seguradora de saúde, resultou em uma queda de mais de 10% nas ações da empresa. Analistas atribuíram essa queda a possíveis pressões regulatórias no setor de planos de saúde, expostas pela morte do executivo. A situação demonstra como a incerteza em torno da liderança de uma empresa pode afetar a confiança dos investidores.
A importância de um plano de sucessão é evidente. Segundo Luiz Martha, diretor de Conhecimento e Impacto do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), “o risco de a empresa se tornar ‘acéfala’ por um período, sem um comando e uma direção clara, é o que pode afetar e abalar a confiança de acionistas e investidores”. Ele enfatiza que “por isso é muito importante falar em sucessão, ainda que o executivo tenha acamado de assumir a cadeira de CEO. Ninguém está imune a esse tipo de situação”.
Riscos de Mudanças Drásticas na Gestão
Luiz Martha explica que a pessoa que assume a companhia certamente terá uma cabeça diferente da que estava no comando antes. O plano de sucessão traz, justamente, a garantia de um alinhamento mínimo aos objetivos estratégicos da companhia, para que rupturas e mudanças desse tipo sejam o menos traumáticas possível. É comum, no plano de sucessão, que a empresa procure alguém que tenha as características necessárias para tocar o futuro da companhia de maneira alinhada ao seu planejamento estratégico.
Riscos de Empresas Familiares
Quando a empresa é familiar e até mesmo gerida por alguém da família, o risco de ruptura é maior. Luiz Martha explica que o componente família é um complicador adicional para essa questão. Muitas vezes a empresa familiar, além das questões técnicas da sucessão, tem as questões familiares. Pode ser que o executivo ainda não tenha definido qual dos filhos está preparado ou tem perfil mais adequado para assumir sua posição, por exemplo. Mas em qualquer situação, seja empresa familiar ou não, a governança é importante para que a passagem de bastão seja feita da melhor maneira possível. Um plano de sucessão formal, para definir o perfil técnico do sucessor, prepará-lo e, se for o caso, buscar um candidato no mercado.
Tema no Brasil
Luiz Martha explica que é um tema que está no radar dos donos e gestores das empresas. Ele explica que é um tema muito difícil de ser discutido por aqui, mais que em outros países até, por uma questão cultural. Nas empresas familiares tem agravantes, porque trata de assuntos muito sensíveis, de finitude da vida, passagem e divisão do poder. São assuntos muito críticos para serem discutidos e que muitas vezes acabam sendo deixados para um segundo momento. Por achar que quem tem que fazer isso é o conselho ou controlador, não priorizam o tema. De novo: não estar preparado para uma transição abruta pode fazer com que os propósitos da companhia não sejam cumpridos e colocam o futuro da empresa em risco.