Paraguai busca ser o novo Vale do Silício da América do Sul com foco em inovação
Paraguai busca se destacar como hub tecnológico, seduzindo gigantes da tecnologia e startups com incentivos fiscais e energia renovável.

Paraguai: Um Novo Hub Tecnológico Impulsionado por Energia Limpa
O Paraguai emerge como um protagonista surpreendente na corrida global por tecnologia, despertando o interesse de investidores e grandes empresas do setor. O fator determinante para essa transformação é um recurso valioso: energia limpa, acessível e em abundância, algo que o Brasil ainda não consegue oferecer em escala similar.
A liderança dessa mudança é Gabriela Cibils, uma engenheira paraguaia com formação em computação e neurociência pela Universidade da Califórnia, em Berkeley. Após quase uma década no Vale do Silício, trabalhando em startups americanas, ela retornou ao seu país natal para contribuir com a criação de um ecossistema de inovação.
Atualmente, Cibils é sócia da Cibersons, empresa de tecnologia e investimentos com sede em Assunção, e uma figura ativa no movimento que busca transformar o Paraguai em um centro tecnológico regional.
“Após observar o impacto da tecnologia no Vale do Silício, senti a responsabilidade de trazer essa mentalidade para casa”, declarou ela.
Energia Limpa: A Chave do Sucesso
Enquanto muitos países almejam um setor de tecnologia competitivo, o Paraguai possui uma vantagem significativa: praticamente 100% da sua energia é proveniente de fontes hidrelétricas. O coração dessa vantagem reside em Itaipu, uma das maiores usinas hidrelétricas do mundo, localizada na fronteira com o Brasil. Essa usina gera cerca de 90% da eletricidade consumida no Paraguai e 10% da brasileira, posicionando o país como um dos maiores exportadores de energia renovável do mundo.
O excedente energético resulta em custos de eletricidade baixíssimos no Paraguai, um atrativo para empresas que operam data centers e estruturas de inteligência artificial, setores que demandam alto consumo de energia.
“Para quem deseja instalar um data center de IA, a energia hidrelétrica do Paraguai representa um diferencial competitivo: é renovável, estável e constante, ao contrário da solar ou eólica”, afirmou o desenvolvedor de software Sebastián Ortiz-Chamorro.
Investimento e Desenvolvimento
O presidente Santiago Peña tem buscado atrair grandes empresas de tecnologia dos EUA, como o Google, para discutir investimentos. Segundo o ministro da Tecnologia e Comunicação, Gustavo Villate, o Paraguai combina vantagens raras: população jovem (idade média de 27 anos), energia limpa, impostos baixos e estabilidade econômica.
O governo está desenvolvendo um Parque Digital próximo ao aeroporto de Assunção, com um investimento inicial de aproximadamente US$ 20 milhões. O espaço deverá abrigar empresas privadas, uma universidade de tecnologia em parceria com Taiwan e infraestrutura voltada a startups.
“O que almejamos é um ecossistema integrado entre governo, empresas e universidades”, afirmou Villate. “Este é o ponto-chave para atrair investidores estrangeiros.”
Formação de Mão de Obra e Inovação Social
A formação de mão de obra é outro pilar da estratégia. Vanessa Cañete, presidente da Câmara Paraguaia da Indústria de Software, destaca que o país investe fortemente na capacitação de engenheiros, programadores e desenvolvedores. Cañete também é fundadora da ONG Girls Code, que oferece oficinas de programação e robótica para meninas e jovens mulheres. Desde 2017, mais de 1.000 alunas já participaram dos programas de treinamento.
Apesar do otimismo, os desafios persistem. Cibils reconhece que o país ainda enfrenta burocracia e lentidão nos processos contratuais, o que pode desestimular investidores acostumados a ambientes mais ágeis. No entanto, ela visualiza um futuro promissor. “Se colocarmos a inovação no centro e aproveitarmos os benefícios que já possuímos, o Paraguai pode se tornar uma superpotência tecnológica.”