Petrobras (PETR4) sofreu queda — chance ou perigo?

A desvalorização das ações da Petrobras está mais relacionada à sua atuação em setores com menor lucratividade do que com seus resultados e distribuição…

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A Petrobras (PETR4) apresentou um resultado no segundo trimestre sem grandes surpresas, contudo, suas ações caíram -6% em um único dia. O motivo?

Indica a possibilidade de um retorno a um negócio de margens estreitas e um odor de interferência política no ambiente.

Para compreender mais a fundo essa reação negativa, é necessário retornar a alguns anos no passado.

Recuos.

Em 23 de dezembro de 2020, a Petrobras ofereceu à acionistas a venda da Liquigaz por 4 bilhões de reais.

A apresentação se deu devido ao múltiplo elevado, que foi bastante interessante (próximo de 12 vezes o EBITDA), mas principalmente por conta da baixa lucratividade do segmento.

O ramo de distribuição de gás para o consumidor final é complexo, demanda alta eficiência logística e rigor no controle de custos, o que, reconhecidamente, não é uma característica típica de empresas estatais.

A análise dos resultados da Liquigaz durante as vendas revelava uma margem EBITDA de 6% e uma margem de lucro inferior a 3%.

Apenas em comparação, o segmento de Exploração e Produção (E&P) de petróleo apresenta margem EBITDA superior a 50% e lucro acima de 30%!

Os investimentos em Exploração e Produção são, sem dúvida, significativamente maiores, porém isso não representa um obstáculo para a Petrobras, que possui uma grande geração de caixa. Portanto, ela sempre deveria priorizar o investimento em áreas com maior rentabilidade, considerando que a distribuição de GLP não se encaixa nesse cenário.

Essa má alocação de capital ajuda a compreender um pouco o mau humor após o anúncio da intenção de retornar ao negócio de distribuição, mas ainda não explica a perda de R$ 32 bilhões de valor em um único dia. E assim se acende uma velha preocupação dos acionistas da Petrobras.

Há diversas dúvidas, sem respostas.

A divulgação levanta uma série de questões sem respostas para os acionistas. Por que a Petrobras optou por retornar ao segmento de distribuição de gás tão perto das eleições? Por que, especificamente, ocorreu isso após tantas críticas de Lula aos preços dos derivados?

A retomada da empresa naquele setor é um desejo do diretor, buscando reduzir os valores de forma abrupta? Ou se trata apenas de uma grande coincidência?

A diretora-executiva da Petrobras, Magda Chambriard, justificou na teleconferência de resultados que a medida está em linha com a previsão de aumento da produção e da maior demanda por escoamento de gás nos próximos anos, buscando flexibilidade para comercializar o volume adicional.

A Petrobras já opera com a venda direta de gás para certas grandes empresas, como a Vale, e a expansão dessa atuação não representaria um grande desafio.

A questão é se a empresa realmente pretende retornar à distribuição de Gás Liquefeito de Petróleo para pequenos consumidores, considerando que isso demandará grandes investimentos em logística, aquisição de cilindros, marketing e na rede de distribuição, entre outros. E como você já sabe, mais investimentos em segmentos de baixo retorno também significam menos dividendos.

A principal preocupação reside no risco de que essa retomada esteja atrelada a políticas populistas do governo, buscando reduzir os custos, o que levaria a Petrobras vender gás abaixo do seu valor de produção, semelhante ao que ocorreu com a gasolina durante o governo Dilma.

Finalmente, essa ação pode permitir que a empresa retorne também à distribuição de diesel e gasolina, um setor de margens baixas, difícil para uma estatal operar e que ainda aumentaria a probabilidade de interferência governamental.

É recomendável investir na Petrobras?

A significativa desvalorização das ações da Petrobras está relacionada primariamente com as perspectivas de atuação em setores menos lucrativos no futuro, além de possíveis interferências políticas.

Cachorro mordido por cobra tem medo de linguiça, e o passado ainda influencia o sentimento dos acionistas. Diferentemente de 2014, a Petrobras atualmente é protegida pela Lei das Estatais, que impede (e pune) prejuízos nas empresas estatais causados por motivos políticos.

Apesar da rentabilidade consolidada diminuir devido à entrada em um segmento de margens menores, o segmento de distribuição de GLP seria pouco representativo no total — apenas como um detalhe. A Liquigaz foi vendida por R$ 4 bilhões, e mesmo que valesse o dobro atualmente, ainda seria muito inferior aos R$ 400 bilhões de valor de mercado da própria Petrobras — mesmo após a mencionada desvalorização de R$ 32 bilhões.

Finalmente, ressalta-se que essa preocupação com a má alocação de capital pode mudar totalmente se houver uma mudança para um governo reformista e menos populista, o que implicaria em um bom reclassificação dos títulos.

Com um lucro superior a 3,8 vezes e um dividend yield de 12%, a Petrobras demonstra incorporar considerável pessimismo nos preços atuais, sendo uma opção interessante em uma carteira de renda diversificada. Dessa forma, os títulos fazem parte da Carteira Mensal de Dividendos, que pode ser consultada em detalhes neste link.

Um abraço e até a próxima semana!

Ruy

Fonte por: Seu Dinheiro

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