Qual é o interesse subjacente ao acordo inédito envolvendo Nvidia, AMD e Trump, que visa a China?

O acordo pode gerar uma abertura que condiciona o acesso ao mercado chinês a uma partilha de lucros com Trump.

11/08/2025 17:53

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Qual é o interesse subjacente ao acordo inédito envolvendo Nvidia, AMD e Trump, que visa a China?
(Imagem de reprodução da internet).

Navem e AMD chegaram a um acordo sem precedentes, alocando 15% da receita gerada pelas vendas na China para o governo de Donald Trump. O mercado inicialmente não rejeita a estratégia da Casa Branca.

As ações das duas maiores empresas de semicondutores estão próximas da estabilidade em Nova York nesta tarde, e o governo dos Estados Unidos sinalizou que pode buscar acordos semelhantes no futuro.

Em contrapartida pela redução na receita, as duas empresas de semicondutores obterão licenças de exportação para comercializar os chips H20 da Nvidia e MI308 da AMD na China, conforme divulgado pelo Financial Times.

Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, afirma que a natureza do acerto inverte a lógica tradicional da política comercial norte-americana.

Em vez de impor restrições às importações por meio de tarifas, Washington passa a receber diretamente da receita das exportações – um acordo que pode gerar insatisfação no setor empresarial americano e em Pequim, por estabelecer um precedente em que o acesso ao mercado chinês fica condicionado à divisão de lucros com o governo dos EUA.

Trump pretendia aumentar.

Estados Unidos e China disputam a liderança em inteligência artificial. Em abril, o governo americano suspendeu a venda de semicondutores avançados para a China, sob alegações de segurança nacional.

Em dezembro passado, a Nvidia e a AMD informaram que a Casa Branca autorizaria o reinício das vendas dos chips H20 e MI308, utilizados no desenvolvimento de inteligência artificial, embora não especificassem os critérios para tal permissão.

Na segunda-feira (11), Trump confirmou os termos do acordo, notando que inicialmente desejava 20% da receita de vendas quando a Nvidia solicitou a venda do chip H20 para a China, que ele considerou desatualizado.

O republicano atribuiu mérito ao diretor executivo da Nvidia, Jensen Huang, pela negociação da diminuição para 15%.

Trump afirmou: “Negociamos um acordo pequeno. Ele está vendendo um chip essencialmente antigo”.

Spiess explica que os chips H20 e MI308 foram desenvolvidos sob medida para superar as restrições implementadas em 2022 pela administração de Joe Biden, que proibiam a comercialização de semicondutores de última geração para a China.

Acordo ou chantagem?

Especialistas em política comercial apontados pelo Washington Post afirmaram que os acordos anunciados por Trump representam uma extorsão e infringem a proibição de impostos de exportação da Constituição dos EUA.

Lideranças democráticas na Câmara dos Deputados norte-americana levantaram preocupações sobre o acordo durante um painel focado na competição com a China, considerando-o “um perigoso uso indevido de controles de exportação que mina nossa segurança nacional”.

“Nosso regime de controle de exportação deve se basear em considerações genuínas de segurança, não em esquemas tributários criativos disfarçados de política de segurança nacional”, declarou o deputado Raja Krishnamoorthi, membro sênior do Comitê Seleto da Câmara sobre a China.

A Nvidia não comentou sobre os detalhes específicos do acordo ou a natureza da troca, mas declarou que cumpriria as regras de exportação definidas pelo governo.

A Nvidia afirmou em comunicado da AP que segue as normas definidas pelo governo dos EUA em sua participação em mercados internacionais. Apesar de não ter enviado H20 para a China há meses, a empresa espera que as regulamentações de controle de exportação permitam que os Estados Unidos compitam no país asiático e globalmente.

Os Estados Unidos não devem repetir o erro de perder a liderança em telecomunicações. A inteligência artificial americana pode se tornar o padrão global se investirmos em competição.

A AMD declarou em comunicado que as primeiras solicitações de licença para exportar chips MI308 para a China foram autorizadas.

A cena demonstra que os chips de IA passaram a ser mais do que componentes tecnológicos, transformando-se em ativos estratégicos, no cerne das disputas geopolíticas e econômicas que definem as relações de poder no século XXI, sobretudo nesse contexto da Nova Guerra Fria que enfrentamos, segundo Spiess, da Empiricus.

A reação do mercado

As ações da Nvidia e da AMD operam próximas da estabilidade, mas já haviam avançado mais de 2% no início do dia, demonstrando que os investidores acreditam que a notícia não é um grande fator negativo para as empresas.

“Do ponto de vista do investidor, continua sendo um resultado positivo, 85% da receita é superior a zero”, afirmou Ben Barringer, analista global de tecnologia da Quilter Cheviot, na CNBC.

Restará verificar se a Nvidia e a AMD reduzem seus preços em 15% para compensar a taxa, mas, em última análise, é preferível que elas continuem vendendo no mercado em vez de ceder o mercado totalmente à Huawei.

A Huawei é o principal concorrente chinês da Nvidia e da AMD.

De acordo com dados da CNBC, da AP e do The Washington Post.

Fonte por: Seu Dinheiro

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