O Resgate das Uvas Criollas: Uma Nova Era na Viticultura Sul-Americana
Por séculos, as uvas Criollas desempenharam um papel fundamental na viticultura da América do Sul, sendo a base da produção vinícola da região. No entanto, com a ascensão das variedades europeias, essas uvas nativas foram relegadas a um segundo plano.
Atualmente, um movimento de resgate está transformando a paisagem vinícola, com produtores na Argentina e no Chile voltando a valorizar e a produzir vinhos com essas uvas, buscando priorizar o frescor, a leveza e a identidade histórica.
A Origem das Criollas
As uvas Criollas são, essencialmente, as primeiras uvas cultivadas no continente americano. Elas descendem diretamente das videiras trazidas pelos colonizadores espanhóis no século 16. “As uvas Criollas são variedades viníferas resultantes do cruzamento natural entre as castas europeias, principalmente a Listán Prieto – também conhecida como Mission ou País – e outras videiras que se adaptaram às condições locais após a colonização espanhola no século 16”, explica Fernando Moreira, sommelier da Santo Vino. “Foram as primeiras a serem cultivadas no continente americano, trazidas pelos colonizadores, aliás, para a produção de vinho sacramental e de mesa”, complementa o sommelier.
O Resgate e a Nova Tendência
Atualmente, há uma mudança no perfil de consumo por vinhos mais leves, frescos, frutados, menos alcoólicos e o crescente interesse por vinhos feitos a partir de uvas indígenas. Para entender essa tendência, conversamos com Fernando Moreira, sommelier da Santo Vino, e Leandro Mattiuz, especialista em vinho e proprietário do Elevado Bar.
Juntos, eles desvendam inclusive os sabores e ainda indicam rótulos que merecem atenção.
Perfil Sensorial: Leveza e Frescor
O que define sensorialmente uma Criolla está, em muitos aspectos, na contramão dos tintos que deram fama à Argentina. Em vez de potência e concentração, elas oferecem pureza. “O que mais chama a atenção é a leveza frutada”, afirma Moreira. “Em comparação com Malbec ou Cabernet Sauvignon, que tendem a expressar potência, estrutura e concentração, por exemplo, as Criollas revelam um lado mais transparente e espontâneo do vinho sul-americano”.
Mattiuz define o perfil como “tintos leves, com pouca estrutura e acidez viva”.
Rótulos Imperdíveis
Para apreciar a diversidade das uvas Criollas, alguns rótulos se destacam: Michelini i Mufatto La Cautiva Criolla Chica, Cacique Maravilha Pipeño, Roberto Henríquez Santa Cruz de Coya País, Bouchon País Salvaje Branco e Lagarde Criolla 2024.
O Futuro das Criollas
Embora o movimento ainda esteja em consolidação, o potencial das Criollas para a identidade do vinho sul-americano é inegável. “As Criollas oferecem à América do Sul uma identidade varietal única”, pontua Moreira. Ele argumenta que, enquanto o Novo Mundo se construiu com castas francesas, as Criollas são um “diferencial genuíno e exclusivo, que nasce da sua própria história e do seu solo”.
